Discipulado Radical
- Vagner Pontes
- 2 de dez. de 2020
- 7 min de leitura
Se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, seria melhor que fosse lançado no mar com uma grande pedra amarrada no pescoço. Se a sua mão o fizer tropeçar, corte-a. É melhor entrar na vida mutilado do que, tendo as duas mãos, ir para o inferno, onde o fogo nunca se apaga, onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga. E se o seu pé o fizer tropeçar, corte-o. É melhor entrar na vida aleijado do que, tendo os dois pés, ser lançado no inferno. onde o seu verme não morre, e o fogo não se apaga. E se o seu olho o fizer tropeçar, arranque-o. É melhor entrar no Reino de Deus com um só olho do que, tendo os dois olhos, ser lançado no inferno, onde ‘o seu verme não morre, e o fogo não se apaga’. Cada um será salgado com fogo. O sal é bom, mas se deixar de ser salgado, como restaurar o seu sabor? Tenham sal em vocês mesmos e vivam em paz uns com os outros.
Marcos 9.42-50
Estamos diante de um discipulado radical. A palavra radical hoje em dia é utilizada num sentido ruim, adquiriu uma má conotação em nosso tempo. Há radicalidades que são ruim, mas há um tipo de radicalidade que é bíblica. A bíblia nos chama a ser radicais em alguns momentos. A Bíblia me chama a amar minha esposa radicalmente: devo amar a minha esposa como Cristo ama a igreja e isso não é algo simples, é extremamente radical. A Bíblia me chama e seguir o Senhor Jesus de maneira radical, o discipulado não é algo "meia boca", você não tem opção de seguir o mestre em algumas coisas e outras não. Este texto trata da radicalidade no discipulado, sobretudo em duas áreas: no cuidado uns com os outros e em nossa própria santificação.
O Discipulado é um chamado radical para sermos parecidos com o mestre, tanto no cuidado de si, como no cuidado dos outros.
Cuidado para não fazerem os pequenos tropeçarem, verso 42. Jesus não fala acerca somente de crianças, mas ele faz menção aos novatos na fé também. Jesus deixa claro que teremos pequeninos que caminharão conosco sempre. Nunca haverá na igreja um momento em que todos são cristão maduros, até porque queremos novos discípulos se juntando a nós. Então, sempre teremos pessoas diversas entre nós. O alerta de Jesus para seus discípulos é: não os faça tropeçar, preocupem-se com os pequenos. Vocês já viveram o suficiente para saberem que o caminho que Jesus ensina é oposto ao que o mundo mostra. Este mundo não se preocupa com o pequeno, o mundo os usa como trampolim para subirem e pegarem algum impulso. É assim no mundo esportivo, no mundo corporativo e na política. Talvez você mesmo já tenha sido um pequeno que foi pisado ou você pisou em alguém mas Jesus faz um alerta: na igreja de Cristo não é assim, há uma outra forma de viver. Se você acha que é assim, Jesus diz q é melhor que você pegue um pedregulho de moinho, enrole no seu pescoço e mergulhe na água. O Senhor cuida dos pequeninos. Um autor disse o seguinte: indiferença e descuido para com os discípulos por quem Cristo morreu, é indiferença e descuido para com o próprio Senhor Jesus. Se você não se importa o suficiente com aqueles que são fracos, que entendem as coisas erradas ainda, é porque você não entendeu seu lugar no Reino.
Por que agimos com indiferença? A primeira forma de descuidarmos com os pequenos é com nossa própria imaturidade. Se você caminha com Cristo há algum tempo, deveria estar maduro na fé.
Os que chegam depois na igreja querem saber como é ser discípulo de Cristo. Eles olharão para sua vida, sua frequência na igreja, em seu cuidado com as pessoas, a forma como você conversa e age.
Sempre haverá culminação entre discípulos experientes e jovens, um olhando para o outro. E talvez você seja um discípulo que já deveria ser maduro mas ainda é um bebê na fé. Então, os discípulos jovens olham pra você e pensam: será que é assim mesmo a vida cristã? E aí eles tropeçam. Devemos nos lembrar do apóstolo Paulo que não tem medo em dizer: sejam meus imitadores, assim como eu sou de Cristo Jesus. Pensem comigo: se o homem, que expulsava os demônios em nome de Jesus mas não pertencia ao grupinho dos discípulos, observasse os mesmos fazendo aquela discussão tola de quem era o maior entre eles. O que você acha que aquele homem, q estava firme com a fé fervorosa, iria pensar? Talvez ele pensasse: estes homens são bebês, eles reclamam de quem faz ministério, reclamam um do outro, reclamam de tudo. E somos por vezes assim, estamos na igreja há muito tempo e não buscamos crescimento espiritual, não avançamos. O apóstolo Paulo escreveu para os coríntios sobre isso: vocês precisam de comida sólida mas tomam leitinho ainda, é hora de crescer!
Você que é discípulo há anos, não é independente em sua caminhada. Suas palavras, comportamento, forma com que lida com enfermidades, forma com que lida com a perda de entes queridos. Suas atitudes são vistas pelos pequenos. Mulheres que andam no caminho do Senhor: as jovens discípulas te olharão para saber como se porta, como se veste, como trata seu marido em sua casa.
Você jovem que já está na igreja há um tempo, os jovens que se juntam a nós olharão para você pra saber como é ser um jovem cristão. Será que eles perceberão a diferença em você? Você que é um oficial da igreja, você será cobrado pelo Senhor Jesus pela maneira como você se porta, atua e participa na vida da igreja. Você que é um discípulo recém-chegado na igreja: não deixe que nosso mau exemplo e imaturidade faça você desanimar na caminhada. Lembre-se que no fundo, todos somos ainda pequenos e experimentando crescimento, mas há maturidade em nosso meio. Busque orientação, busque se moldar naqueles que estão caminhando com o Senhor pois existem pessoas maduras. Busque alguém como referência.
Há uma outra maneira de como podemos fazer o pequeno tropeçar: a irresponsabilidade de nossa liberdade cristã. Crentes pequeninos chegam em nossa meio com uma cosmovisão não bíblica, mas têm coisas que são lícitas biblicamente e precisamos ser cuidadosos em como usar estas coisas porque nossos irmãos filhotinhos ainda estão caminhando e eles precisam saber por onde andam. Um exemplo clássico é a questão do uso do álcool ou o envolvimento do cristão com políticas partidárias. A Bíblia não faz proibição de bebida alcóolica, nem de envolvimento político-partidário. Mas ela faz proibição ao abuso do álcool, ao exagero e faz um alerta de como devemos servir como modelo aos mais fracos na fé. Pessoas com ímpeto muito acalorado ressaltam este ímpeto até em redes sociais e são seguidos por vários novos na fé, que olham para elas e perguntam: este é o crente?
Muitos novos na fé e até os mais experientes têm dificuldade de saber onde é o limite. Muitos irmãos maduros querendo exaltar sua liberdade de consciência, acabam fazendo com que os jovens discípulos caiam. Não coloque o prazer transitório de sua liberdade cristã acima do bem-estar duradouro de instruir e cuidar dos novos discípulos. Paulo ensinou sobre isso, alertando com o cuidado dos irmãos com os mais fracos na fé sobre comer carne sacrificada aos ídolos. O chamado radical do discipulado pode passar pela necessidade de você deixar de fazer publicamente coisas que você tem total liberdade de fazer. Tenhamos mais cautela para o crescimento dos novos na fé. Mas, se você valoriza mais seu prazer do que seu irmão, o Senhor Jesus te diz claramente com este discipulado radical: amarre logo uma pedra em teu pescoço e pula na água pois você ainda não é um dos meus.
Um outro lado que vale observar. Muitas vezes, antigos discípulos que já deveriam ser maduros usam a desculpa do tipo: por favor, não vá me fazer tropeçar. Usam esta desculpa apenas para não amadurecer. Temos a responsabilidade de crescer. O Senhor nos chama a sermos radicais em nossas vidas. Nos versículos de 43 a 48, o Senhor se volta aos discípulos para dizer como eles devem viver suas vidas para si mesmos. O Senhor não está dizendo que você deve cortar partes de seu corpo para não pecar. A Bíblia tem leis contra automutilação, o Senhor não nos ensinaria algo contra o Antigo Testamento. Não é o que vem de fora que corrompe o homem, o pecado nasce no coração e se revela em nossas ações. E qual a consequência? O inferno. O discípulo verdadeiro é marcado como alguém que busca crescer radicalmente em santidade e em semelhança com Cristo.
Discipulado não é algo leve. Para realçar isso, Jesus fala até de inferno.A palavra usada no original é guehenna, se refere a um lugar de punição eterna àquele que não se dobra perante o Senhor. A vida cristã é seríssima, não tem brincadeira. É necessário amputar radicalmente o pecado de nossas vidas. Fergunson diz: ou matamos o pecado ou ele nos mata. Não devemos brincar com a força destrutiva do pecado. Muitas vezes temos pecados como hábitos. Jay Adams sugere alguns hábitos: explosão de ira com sua família, no trânsito; a mentira, a pornografia, pequeno furto, autocomiseração. O pecado é confortável e automático, às vezes inconsciente. Não é fácil mudar estes padrões mas o chamado bíblico é cortar o mal pela raiz. Somos chamados a agir. Existem algumas linhas teológicas que, de uma maneira equivocada, ensinam que santificação é uma ação exclusiva do Senhor em nossas vidas - uma ação monergista. Na verdade, a ação da santificação é sinergista. Têm atuação do Senhor mas também tem nossa participação. O Senhor Jesus nos ensina que devemos tomar atitudes. A ideia da amputação radical é assumir passos que dificultam cair nestes padrões de pecado. Nos versos 49 e 50, o Senhor nos chama a mudarmos à semelhança Dele, sempre em Seu poder. Precisamos transformar nossa mente em relação ao que é certo e errado. Ele diz: eu sou a fonte, o caminho. Vivemos cavando cisternas rachadas, a água suja que vem do buraco é melhor que a água limpa que o Senhor nos oferece em sua Palavra diariamente. Só Jesus tem a água que mata a sede. No verso 49, Ele diz q cada um será salgado com o fogo. Alguns comentaristas dizem que se trata da purificação do fogo de Deus. Você que é discípulo vai passar por um fogo projetado por Deus para queimar suas partes podres para que você cresça, como os metais são refinados. Vida eterna é já nesta vida, participando da santidade de Cristo aqui. Padrão de tratamento: despir do velho homem, arrancar o mal pela raiz e ser purificado nas tribulações. Não é somente largar o padrão pecaminoso, é substitui-lo por vida. O padrão bíblico de mudança é largar as cisternas rotas e beber do manancial. Você será sal da terra e viverá em paz com seus irmãos. O poder não é seu, é do Senhor em você. Radicalismo tem lugar em nossa vida, é se agarrar à única fonte de água limpa que sacia a sede do deserto.
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